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Empresas francesas são o primeiro empregador estrangeiro em Portugal - Entrevista a Florence Mangin

06 janeiro 2021 Carreira
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"As universidades e escolas francesas estão preparadas para receber estudantes portugueses", afirma Florence Mangin, embaixadora de França em Portugal. Oferta de cursos de Inglês e de Francês, ajudas no alojamento e nos restaurantes universitários e propinas das mais baixas do mundo "são argumentos fortes e esperamos receber cada vez mais estudantes portugueses", acrescenta, ao mesmo tempo que disponibiliza os serviços da embaixada para todos os interessados em irem para França, seja para estudar ou para investir.


Vida Económica - O que pensa sobre a evolução das trocas comerciais entre França e Portugal?


Florence Mangin - França representa para Portugal um parceiro comercial fundamental: há vários anos que o nosso país mantém o estatuto de terceiro fornecedor e segundo cliente de bens, uma tendência que perdurou no primeiro semestre de 2020, apesar da pandemia.
Entre janeiro e julho de 2020, mais de 7% das importações de bens de Portugal era proveniente de França; para os serviços, este número representava mais de 8%. Em 2019, cerca de metade dos crescimentos das importações recebidas por Portugal explicava-se pelo dinamismo do comércio em proveniência de França, na proporção de 2,7 pontos percentuais para um crescimento global de 6%. As vendas francesas no sector aeronáutico, cujo valor acrescentado é elevado, permitiram alcançar estes resultados excecionais.


O mercado francês é igualmente crucial para as exportações portuguesas: em 2019, mais de 7,7 mil milhões de euros de bens e 3,4 mil milhões de euros de serviços foram vendidos por Portugal a clientes franceses. Os importantes investimentos das empresas francesas contribuem para o dinamismo das vendas de Portugal para França. Além disso, os turistas franceses representam um importante mercado para as vendas de serviços: foram eles quem mais gastaram em 2020, bem à frente dos ingleses, espanhóis e alemães.
Em geral, a balança comercial entre os nossos dois países é favorável a Portugal.

VE - No momento atual, Portugal tem um nível de investimento inferior à média europeia. O investimento francês pode crescer, contribuindo para a criação de riqueza e emprego?


FM - França ocupa um lugar fundamental no que diz respeito aos investimentos estrangeiros realizados em Portugal. No total, 10 mil milhões de euros de stock de investimentos diretos, provenientes de França, foram contabilizados no país em junho de 2020, ou seja, 7% do conjunto dos investimentos diretos estrangeiros presentes em Portugal.


A presença das empresas e investimentos franceses é bastante diversa, seja em termos de tamanho ou de setores de atividade: transportes, indústria transformadora, grande distribuição, serviços, novas tecnologias, etc. E difícil definir um perfil tipo. No entanto, existe um ponto comum: o intuito de inscrever a sua ação em Portugal no âmbito de uma parceria de longo prazo. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, as filiais de empresas francesas ocupavam, em 2019, o primeiro lugar em termos de valor acrescentado bruto: mais de cinco mil milhões de euros, ou seja, cerca de 23% do VAB gerado por filiais estrangeiras em Portugal. As nossas empresas são também o primeiro em pregador estrangeiro no setor dos transportes e da logística, do comércio, e também da informação e das comunicações.


O investimento português em França é menor, com um stock de 1,2 mil milhões de euros no final de 2019, gerando 7600 postos de trabalho. Por esse motivo, estamos interessados nos investimentos portugueses em França. No caso de investidores terem projetos no nosso país, ainda que longínquos, não hesitem em solicitar a Embaixada de França. Existe um dispositivo implementado pela Business France (o equivalente francês da AICEP) destinado ao acompanhamento de investidores.



VE - Nos últimos anos tem havido uma expansão da atividade dos centros de serviços partilhados com o envolvimento de grandes empresas francesas. Portugal é um país atrativo para a instalação destes centros de serviços?


FM - A escolha de Portugal para a instalação destes centros de serviços pode analisar-se sob vários ângulos: a decisão de deslocalizar os serviços fora de França responde principalmente a considerações financeiras às quais se acrescentam, por razões de funções informáticas, nomeadamente, a disponibilidade e a qualidade dos recursos humanos. A decisão de investir na União Europeia pode explicar-se por razões regulamentares (Estado de Direito, estabilidade das normas, legislação e supervisão europeias), de proximidade (facilidade das trocas e das comunicações) e de estabilidade política, económica e social.


Por fim, a escolha de Portugal por grandes empresas francesas prende-se igualmente com considerações ligadas à mão de obra bem formada, poliglota, multicultural e com a reputação de ser flexível e responsável ao mesmo tempo; à qualidade das infraestruturas (frequência das ligações aéreas com França, qualidade das redes de informação); à ausência de risco político (estabilidade política e social); à hospitalidade e às ajudas financeiras propostas aos investidores estrangeiros pelos poderes públicos.
Comunidade "Le trançais, une langue d'opportunités"



VE - Um dos reflexos da atividade das empresas estrangeiras em Portugal é o aumento da procura de profissionais que falam francês?


FM - Como mencionado na questão precedente, as empresas estrangeiras em Portugal, nomeadamente os centros de serviços partilhados valorizam e procuram sobretudo uma mão-de-obra poliglota, com fluência igualmente em língua francesa.
Atualmente, as empresas francesas são o primeiro empregador estrangeiro em Portugal, aumentando, assim, a procura por profissionais francófonos. Para responder a esta necessidade, foi criada, em 2017, a Comunidade "Le français, une langue d'opportunités", composta por uma dezena de empresas francófonas presentes em Portugal. Sendo o domínio do francês uma mais-valia evidente nos processos de recrutamento em Portugal, estas empresas desenvolveram projetos de promoção da língua francesa nas universidades. Além da oferta de aulas gratuitas de francês dadas pela Alliance Française, são organizados, para os alunos, eventos de networking, promovendo um contacto mais próximo com o mercado de trabalho e a realidade das empresas que fazem parte desta Comunidade.



VE - Que razões levaram a Embaixada de França em Portugal a criar uma nova campanha de divulgação da língua francesa?


FM - A Embaixada de França em Portugal e o Instituto Francês de Portugal, com o apoio da rede das Alianças Francesas, lançaram, em outubro de 2020, a campanha "Rendez-vous ao futuro!", campanha de promoção da língua francesa que estará presente em todo o território português. A "Rendez-vous ao futuro!", que se destaca pela sua jovialidade e pelo seu dinamismo, tem como propósito conseguir uma imagem renovada da língua francesa, como língua de modernidade, de empregabilidade e de inovação, podendo mesmo estimular o multilinguismo.


O nosso principal objetivo é aproximar os jovens portugueses da francofonia, e que o francês não seja apenas uma língua vivida pela geração dos pais e dos avós dos jovens de hoje. Assim, graças a esta campanha, esperamos poder afirmar com confiança que "o Francês está de volta!", nomeadamente no mercado do trabalho português e nos intercâmbios comerciais.


De forma a ilustrar a relevância do francês no "mundo dos negócios", decidimos associar personalidades da área à "Rendez-vous ao futuro!", convidando-os a emprestar o seu testemunho, através de vídeos curtos e impactantes, e assim descrever
a importância da língua francesa nos seus percursos tanto profissionais como pessoais. Alguns vídeos já estão disponíveis na página da "Rendez-vous ao futuro!" (https://rende- zvousaofuturo.pt/), onde poderão explorar também os outros formatos da campanha, como spots publicitários, e outras informações relacionadas com a língua francesa.
"O reforço da mobilidade estudantil é uma prioridade"


VE - Tendo em conta o aumento da mobilidade dos estudantes universitários e jovens profissionais, iremos ter cada vez mais jovens franceses em Portugal e estudantes portugueses em França?


FM - Esse é o desejo da Embaixada! O reforço da mobilidade estudantil é uma prioridade para nós, pois quem estuda num país amigo torna-se o melhor embaixador entre as duas culturas. Por isso, damos toda a informação necessária aos estudantes interessados, e implementamos um programa de bolsas para a mestrado e doutoramento.
Atualmente, muitos estudantes portugueses já estão a estudar em França: cerca de 7000 estavam matriculados no ensino superior francês no último ano. França é o terceiro país de mobilidade dos estudantes portugueses, depois do Reino Unido e da Espanha. Estas mobilidades acontecem em todas as áreas: engenharia, gestão, ciências políticas, ambiente, filosofia, artes…


Mas ainda há uma grande margem para melhorias, particularmente em termos de mobilidade Erasmus+. Uma importante iniciativa permitirá ainda aumentar esses intercâmbios: as Universidades Europeias, realizadas pela Comissão Europeia a partir de uma proposta do presidente Macron em 2017. Já há 5 alianças de universidades europeias que constam com universidades francesas e portuguesas. Os projetos estão a iniciar e estamos muito esperançosos em relação a eles.


E claro que este ano foi mais difícil, mas queria deixar a mensagem, para os estudantes interessados em irem a França, que as universidades e escolas francesas estão preparadas para recebê-los: seja presencialmente ou em formato híbrido, tomaram todas as providências para o melhor acolhimento dos estudantes internacionais, inclusive de Portugal.


Quanto à mobilidade estudantil de França para Portugal, os números estão a aumentar, com +90% de estudantes franceses matriculados no ensino superior português entre 2012 e 2017. No âmbito do programa Erasmus+, Portugal é também um destino cada vez mais popular entre os jovens franceses, colocando a França na 5a posição em termos de número de alunos estrangeiros Portugal.


A Embaixada está também a trabalhar no acompanhamento dos profissionais portugueses que estudaram em França, nomeadamente através da plataforma France Alumni Portugal: o objetivo é criar uma rede de Alumni e permitir-lhes manter uma ligação com França, especialmente com as empresas francesas implantadas em Portugal. Teremos um grande evento de "networking", online, com a presença de um ilustre "Alumni", Carlos Moedas, no próximo 17 de dezembro. Convido todas e todos a participar!

VE - Para os jovens que equacionam estudar no estrangeiro no âmbito do Programa Erasmus, quais são os fatores que podem determinar a opção por França como país de destino?


FM - Eu destacaria cinco elementos:

  • Em primeiro lugar, a excelência académica. As 3500 universidades e escolas francesas (engenharia, business school...) fazem parte das melhores do mundo. Estudar em França é, portanto, um grande valor acrescentado na carreira de um estudante.
  • Em segundo lugar, a experiência de vida. França é um país no centro da Europa, com imensa variedade geográfica e cultural, o famoso "art-de-vivre" francês, e uma grande abertura internacional. Não é por acaso que 90% dos estudantes internacionais em França recomendam seguir seus passos!
  • Em terceiro lugar, o dinamismo económico e a relação privilegiada entre nossos dois países. Eles são a garantia de oportunidades profissionais excecionais para quem estudou em França.
  • Quarto, o contacto com a língua francesa. Quero tranquilizar os estudantes que não falam francês: a grande maioria das universidades oferecem hoje cursos em inglês para facilitar a vinda de estudantes a França, enquanto lhes oferecem cursos de língua francesa para a sua vida quotidiana. Mas mesmo quem não domina o francês inicialmente vai aprender no contacto com os outros e assim vai ganhar uma mais-valia muito importante para seu futuro profissional e pessoal.
  • E, para terminar, queria quebrar a falsa ideia de que o custo de vida em França é muito elevado. Há uma série de vantagens para os estudantes, tais como ajuda no alojamento ou como nos restaurantes universitários, que tornam a vida totalmente acessível, sobretudo fora da capital. Sem contar que, em França, as propinas são das mais baixas do mundo, inclusive para os estudantes europeus!


Como podem ver, temos argumentos fortes e esperamos receber cada vez mais estudantes portugueses. Aliás, as minhas equipas na Embaixada estão à disposição para responder às perguntas dos interessados e lembro que o site campusfrance.org pode ajudá-los a esclarecer algumas dúvidas sobre os estudos superiores em França.

Fonte:

João Luís de Sousa, Vida Económica - 2020-12-31 

PortugalNews - Aicep Portugal Global




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